domingo, 31 de março de 2013

A comédia da vida pública.

Os recentes fatos ocorridos na Comissão de Direitos Humanos, da Câmara dos Deputados, sem adentrar no mérito de questões religiosas ou mesmo dar azo a esse tipo de discussão, têm muito a ensinar à incipiente democracia brasileira.

O que está em jogo na disputa pelo poder dentro da comissão não é uma questão de cunho teológico, mas sim, uma queda de braço entre grupos da sociedade civil organizada.

Os manifestante que protestam contra ao atual presidente, o deputado Marco Feliciano, mostram a todos nós como é interessante se organizar em grupos de pressão, e que tais grupos são raros, com exceção dos de cunho econômico - como esquecer da FIESP e seu símbolo em plena Avenida Paulista?

No geral, observa-se que a sociedade brasileira é desorganizada, no quesito defesa dos interesses no âmbito do Poder Legislativo. Talvez, isso seja uma herança da ditadura militar, que não apoiava a formação de associações de cidadão comuns, relegando esse papel uma elite, preferencialmente a econômica.

Seria bastante interessante se houvesse um rearranjo da organização da sociedade para que surgissem novos grupos de pressão política e assim diminuir um poder dado (ou pelo menos exercido) por sindicatos, associações de classe ou de grupos econômicos que, na maioria das vezes, não defendem o interesse do cidadão comum, mas de algumas cabeças coroadas.

Enquanto isso não ocorre, teremos que assistir aos atos teatrais que se passam na Comissão de Direito Humanos, encarando-a como uma verdadeira comédia da vida pública, porque o resultado final, lá no terceiro ato, será a saída do deputado Marco Feliciano, após muito fritura de seus próprios colegas.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Aos Gálatas de hoje.

Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jugo de escravidão. (Gálatas, 5:1)
A história a qual levou Paulo a escrever a Epístola aos Gálatas, que é considerada sua primeira carta, é bastante conhecida. Todavia, merece ser rememorada.

A Galácia era uma região onde, atualmente, é a Turquia, e que recebeu as Boas Novas provavelmente pelo grupo de Paulo, numa de suas muitas missões evangelizadoras.

Contudo, assim que Paulo deixou a região, por influência dos judeus que ali moravam, voltaram a adotar alguns ritos da Lei Moisaica, tais como a circuncisão, jejuns de purificação etc.

Numa de suas passagens pela região (Atos 16:6-10), Paulo foi informado do retrocesso que os novos convertidos estavam adotando, levando-o a escrever sua Epístola aos Gálatas, carta na qual prega a liberdade da Graça e condena o retorno do jugo da escravidão da Lei.

A Epístola aos Gálatas também é conhecida como a carta da liberdade cristã.

Assim como os gálatas estavam retornando ao jugo da escrividão, praticando atos que atentavam contra a liberdade cristã, o mesmo parece ocorrer, atualmente, com a sociedade em que vivemos. Apesar de vivermos num momento em que é possível praticar a plena liberdade,  a grande maioria dos seres humanos prefere renunciar a este direito para voltar ao jugo da escravidão.

Obviamente que a liberdade a qual Paulo se referiu não é a mesma da concepção do Estado Democrático de Direito, mas sim a de viver no mais alto grau de desprendimento de ser rotulado deste ou daquele grupo, por meio de prática de atos (ritos) nos quais o praticante demonstra professar ou ser de determinada "tribo".

Hoje, o jugo da escravidão não é manifesto num ato em que um sujeito é privado de seus direitos de cidadão ou de liberdade religiosa. A escravidão é mais sutil, mais refinada, existente nos meandros do cotidiano.

Se você não está usando a roupa da grife A, você é out. Se você não tem determinado carro, último modelo etc, você é mais um na multidão. Se você não frequenta tal point da cidade, você não é badalado (veja que nem toquei na questão do high society - se é que ela ainda existe!).

É a esse tipo de escravidão a que me refiro, uma escravidão vazia, no qual o meu ponto de referência é o outro, e sempre tenho que ser melhor que ele.

Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho;
Gálatas 1:6
Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho
Gálatas 1:6
Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho. (Gálatas 1:6)
Infelizmente é assim que tenho visto a hipermodernidade, como um grupo de escravos de coisas vãs, que se esquecem do principal, de que viver uma vida bem vivida, não é se entregar às fúteis coisas do mundo, pois o melhor está no porvir.

Ao ler as notícias dos jornais, não deixo de pensar em Gálatas 5:19-21. É como se estivesse voltando ao passado, ao invés de avançar para o futuro.

Contudo, na mesma Epístola, existe a fórmula para se avançar para o futuro (Gálatas 6:7-9), método esse que todos os que já estão em liberdade deveriam praticar.

Oh, insesatos gálatas! Acordem enquanto ainda existe tempo!



terça-feira, 19 de março de 2013

Rondônia: você sabe a origem desse nome?

Minha última aquisição, no Sebo do Messias, foi o livro "Rondônia", escrito por Edgar Roquette-Pinto, o qual faz algum tempo que não é reeditado. A minha edição é de 1935.

Quanto se pergunta a alguém por qual razão o "Estado de Rondônia" foi assim denominado, a maioria diz que foi uma homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Contudo, não é bem assim....
Nesse livro o autor percorre o caminho feito por Rondon quando, o então Coronel, realizou os estudos e implantou a linha de telégrafo ligando Cuiabá a Santo Antônio do Madeira, perto da atual cidade de Porto Velho.
Essa vasta área, que abrangia territórios de Mato Grosso e Amazonas, nos idos de 1907, foi esquadrinhado por Rondon, que aproveitou o estudo para a implantação da linha de telégrafo para explorar e conhecer as diversas etnias que habitavam a região, à época, considerada como um vazio demográfico.

O livro é um misto de diário e registro das impressões do autor sobre o que foi encontrando no caminho. É interessante observar que no texto permeia os conceitos científicos em voga na época, principalmente as teorias do determinismo biológico para justificar o 'atraso' da região.
 
Note-se que, na frase de abertura, o autor já declara que "a ciência vai transformando o mundo", denotando a visão positivista imperante naquele tempo, em que o homem pensava que só o conhecimento científico seria suficiente para dominar e domar a natureza; e have ordem nisso, haveria progresso que, com o passar do tempo, revelou-se falso (Ordem e Progresso - isso nos recorda algo?).

Para mim a leitura é bastante agradável porque conheço, visualmente, boa parte da região descrita, pois a viagem à pé se inicia em Tapirapuã, um entreposto criado por Rondon, às margens do Rio Sepotuba, que serviu para abastecer as comitivas que faziam parte da expedição comanda pelo Marechal.

O texto narra a passagem pela Aldeia Queimada, Utiariti, Vilhena, dentre tantos outros lugares que conheço pessoalmente.

Tapirapuã existe ainda hoje, pois esse local foi transformado em uma escola, no Assentamento Antônio Conselheiro, no Município de Tangará da Serra (MT). É desse ponto que as comitivas iniciavam o transporte dos gêneros alimentícios e outros víveres para alimentar a expedição.

Quem hoje, das partes mais altas da cidade de Tangará da Serra, olha as escarpas da Chapada dos Parecis, nem imagina quanta gente, muito antes de existir a MT-358 ou a MT-480, já subiu aquela serra. Obviamente que o caminho não era o mesmo da estrada, mas já no alto da chapada, a linha de telégrafo possuía, praticamente, o mesmo traçado da atual BR-364.

Na verdade, ao se fazer uma sobreposição entre o atual traçado da BR-364 e a linha de telégrafo, haverá uma surpresa, pois são quase coincidentes na maioria dos trechos hoje existentes e pavimentados.

Ponte de Pedra, Rios Sucuruína, do Sangue, Verde, Papaguaio, Juruena, Juína etc, já eram de conhecimento da Comissão Rondon.

O que ocorre hoje, para quem habita na região de Tangará da Serra, Campo Novo do Parecis, Sapezal, é um quase desconhecimento de que o lugar já havia sido desbravado antes, tanto por renóis portugueses quanto por homens da Comissão Rondon, depois por Roquette-Pinto e por Levi-Strauss..... e outros tantos.

Voltando ao título do post, após a publicação do livro de Roquette-Pinto, este denominou esse grande território de Rondônia, a terra etnográfica explorada por Rondon.

Somente com a publicação da Lei nº 2.731/1956 é que o então "Território do Guaporé", criado por Getúlio Vargas, passou a ser denominado de Rondônia. Só que a Rondônia etnográfica já existia, desde os tempos de Roquette-Pinto, ou até antes dele.

O livro "Rondônia" deveria ser reeditado e seu teor introduzido nas salas de aulas tanto de Mato Grosso quanto de Rondônia, e os alunos poderiam passear pelos locais narrados no livro e, assim, valorizar sua História.

Posso até imaginar as carinhas dos alunos curiosos quando os professores, numa aula de campo, ali no Salto Maciel - Salto da Felicidade no livro, pudessem ler o texto e, em suas curiosas e ávidas mentes, recompor as imagens.

Tenho certeza que com um simples exercício desse, iriam rapidamente deixar de ler (quando ao menos lêem) os Harry Poter, Crespúsculo e outros tantos livros sem eira nem beira para, quem sabe, incitados pela curiosidade, ler Machado de Assis, Guimarães Rosa e, claro, Clarice Lispector - que não tem qualquer ligação com "Rondônia".

Quem sabe ainda poderei ver isso. Quem sabe......

domingo, 17 de março de 2013

Estou de volta!

Faz tempo que não escrevo por aqui. Não porque não tenha assunto ou tempo, mas por conta dum certo desespero que, às vezes, me aflinge.

Vivemos num tempo no qual a informação é algo fácil de se obter. Sobre qualquer assunto posso pesquisar e saber um pouco. O "Doutor Google" é bom nisso. Antes eu tinha que me dirigir a uma biblioteca (oh, como as amo!).

Todavia, o acesso fácil à informação não significa aumento e proliferação do conhecimento. Ao revés!

Tenho assistido, de camarote, ao nascimento de uma geração, que foi denominada de "Y", e que, na verdade, deveria ser chamada de "P". "P" de preguiça. Quem sabe, para deixar o termo mais culto, vou passar denominar tal geração de p. Sim, a letra grega usada em matemática para indicar a constante 3,14... e que é a transliteração do 'p'  no alfabeto latino. Geração p.

Os p, apesar de ter quase toda informação que quiserem num simples digitar na caixa de busca do Google, não o sabem fazer, pois são acometidos de uma leve preguiça de pensar. Sim, a preguiça de pensar os domina, pois o Google é um ótimo instrumento de pesquisa. Todavia, para se garimpar a informação, é necessário saber utilizar as palavras chaves corretas, ou termo de pesquisa.

Isso dá trabalho! Escolher as palavras chaves corretas exige um ato ao qual a Geração p  é avessa, o ato de pensar.

Bem, supondo que ainda assim se a  Geração p consiguir encontrar a informação, surge um segundo problema: ler. Como essa geração tem preguiça de ler! Um texto de duas páginas é uma tortura - ainda não sei se a classifico de tortura digital ou tortura Y ou tortura p .

O resultado do somatório desses fatores resulta num produto já bastante conhecido.  Dificuldade de escrever - exceto no chat, pois ali existe, na verdade, um emaranhado de caracteres abreviado que, algumas vezes, nem os da Geração p sabem o que está escrito.

Está surgindo uma geração que projeta um cenário nada bom. Se continuarmos no rítmo que estamos, em menos de 50 anos retrocederemos 500. Essa é minha opinião, principalmente quando, ainda que toscamente, analiso a realidade aplicando as premissas da teoria de Schumpeter sobre as grandes ondas.

Talvez esse seja o resultado do gosto pelo ato de pensar: a aflição ou o leve desespero. É isso que já consta nos ensino das Sagradas Escrituras, em Eclesiastes 1:18 - "Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor."

Boa semana a todos! 
Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.
Eclesiastes 1:18