terça-feira, 19 de março de 2013

Rondônia: você sabe a origem desse nome?

Minha última aquisição, no Sebo do Messias, foi o livro "Rondônia", escrito por Edgar Roquette-Pinto, o qual faz algum tempo que não é reeditado. A minha edição é de 1935.

Quanto se pergunta a alguém por qual razão o "Estado de Rondônia" foi assim denominado, a maioria diz que foi uma homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Contudo, não é bem assim....
Nesse livro o autor percorre o caminho feito por Rondon quando, o então Coronel, realizou os estudos e implantou a linha de telégrafo ligando Cuiabá a Santo Antônio do Madeira, perto da atual cidade de Porto Velho.
Essa vasta área, que abrangia territórios de Mato Grosso e Amazonas, nos idos de 1907, foi esquadrinhado por Rondon, que aproveitou o estudo para a implantação da linha de telégrafo para explorar e conhecer as diversas etnias que habitavam a região, à época, considerada como um vazio demográfico.

O livro é um misto de diário e registro das impressões do autor sobre o que foi encontrando no caminho. É interessante observar que no texto permeia os conceitos científicos em voga na época, principalmente as teorias do determinismo biológico para justificar o 'atraso' da região.
 
Note-se que, na frase de abertura, o autor já declara que "a ciência vai transformando o mundo", denotando a visão positivista imperante naquele tempo, em que o homem pensava que só o conhecimento científico seria suficiente para dominar e domar a natureza; e have ordem nisso, haveria progresso que, com o passar do tempo, revelou-se falso (Ordem e Progresso - isso nos recorda algo?).

Para mim a leitura é bastante agradável porque conheço, visualmente, boa parte da região descrita, pois a viagem à pé se inicia em Tapirapuã, um entreposto criado por Rondon, às margens do Rio Sepotuba, que serviu para abastecer as comitivas que faziam parte da expedição comanda pelo Marechal.

O texto narra a passagem pela Aldeia Queimada, Utiariti, Vilhena, dentre tantos outros lugares que conheço pessoalmente.

Tapirapuã existe ainda hoje, pois esse local foi transformado em uma escola, no Assentamento Antônio Conselheiro, no Município de Tangará da Serra (MT). É desse ponto que as comitivas iniciavam o transporte dos gêneros alimentícios e outros víveres para alimentar a expedição.

Quem hoje, das partes mais altas da cidade de Tangará da Serra, olha as escarpas da Chapada dos Parecis, nem imagina quanta gente, muito antes de existir a MT-358 ou a MT-480, já subiu aquela serra. Obviamente que o caminho não era o mesmo da estrada, mas já no alto da chapada, a linha de telégrafo possuía, praticamente, o mesmo traçado da atual BR-364.

Na verdade, ao se fazer uma sobreposição entre o atual traçado da BR-364 e a linha de telégrafo, haverá uma surpresa, pois são quase coincidentes na maioria dos trechos hoje existentes e pavimentados.

Ponte de Pedra, Rios Sucuruína, do Sangue, Verde, Papaguaio, Juruena, Juína etc, já eram de conhecimento da Comissão Rondon.

O que ocorre hoje, para quem habita na região de Tangará da Serra, Campo Novo do Parecis, Sapezal, é um quase desconhecimento de que o lugar já havia sido desbravado antes, tanto por renóis portugueses quanto por homens da Comissão Rondon, depois por Roquette-Pinto e por Levi-Strauss..... e outros tantos.

Voltando ao título do post, após a publicação do livro de Roquette-Pinto, este denominou esse grande território de Rondônia, a terra etnográfica explorada por Rondon.

Somente com a publicação da Lei nº 2.731/1956 é que o então "Território do Guaporé", criado por Getúlio Vargas, passou a ser denominado de Rondônia. Só que a Rondônia etnográfica já existia, desde os tempos de Roquette-Pinto, ou até antes dele.

O livro "Rondônia" deveria ser reeditado e seu teor introduzido nas salas de aulas tanto de Mato Grosso quanto de Rondônia, e os alunos poderiam passear pelos locais narrados no livro e, assim, valorizar sua História.

Posso até imaginar as carinhas dos alunos curiosos quando os professores, numa aula de campo, ali no Salto Maciel - Salto da Felicidade no livro, pudessem ler o texto e, em suas curiosas e ávidas mentes, recompor as imagens.

Tenho certeza que com um simples exercício desse, iriam rapidamente deixar de ler (quando ao menos lêem) os Harry Poter, Crespúsculo e outros tantos livros sem eira nem beira para, quem sabe, incitados pela curiosidade, ler Machado de Assis, Guimarães Rosa e, claro, Clarice Lispector - que não tem qualquer ligação com "Rondônia".

Quem sabe ainda poderei ver isso. Quem sabe......

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